Como todos conhecem, a ocupação do sertão potiguar pelo “homem branco” ocorreu pela força da pecuária bovina, logo após a chamada Guerra dos Bárbaros. A citada guerra praticamente exterminou a população indígena daquele espaço. Os poucos que restaram foram transferidos para outras regiões e hoje existem apenas pequenos vestígios de sua existência no interior do Rio Grande do Norte.
Na esteira do gado veio também a plantação de pequenas roças, destinadas à alimentação da população sertaneja. Nessas roças destacavam-se o cultivo do feijão, do milho, da mandioca (para fazer farinha), do arroz, do melão, da melancia e do jerimum .
Posteriormente, com a entrada do algodão, este passou a ser a principal atividade econômica dos sertões nordestinos. A cultura que monetizou a economia da região. Nessa fase, porém, o cultivo do milho e do feijão como alternativas alimentares seguia sua tradição. O algodão garantia a renda monetária das famílias, as culturas tradicionais (milho, feijão, mandioca e arroz) a alimentação e o rebanho bovino a reserva de capital (poupança) e a fonte de proteína alimentar.
Claro que frequentemente essa produção era dizimada pelas frequentes secas que assolavam a região.
Pois bem, entre a década de 30 e final dos anos 70 do século passado vivemos o período áureo desse “modelo” de exploração agrícola.
Conforme podemos ver no gráfico abaixo, na década de 30 do século XX a produção somada de milho e feijão no RN era de aproximadamente 13 mil toneladas anuais, com predomínio do feijão. Progressivamente essa produção foi crescendo até atingir uma média de 120 mil toneladas ano nas décadas de 60 e 70 (agora com o milho tendo uma produção ligeiramente maior que o feijão).
Esse aumento da produção ocorreu na esteira da expansão da cultura do algodão e do crescimento demográfico do estado. Para atender uma população em crescimento, em um período em que a integração da economia nacional era precária, a oferta de alimentos precisava estar próximo aos centros consumidores. Assim, a produção nesse período atendia ao crescimento vegetativo da população.
Todavia, após a grande seca de 1979-1983, essas culturas não só pararam de crescer como a produção variou muito mais de ano para ano e seguiu uma tendência de declínio. A cada nova grande queda a produção nunca retorna de forma consistente para o pico do período anterior. Na presente década a produção média anual do RN regressou para os patamares da década de 30 de século passado. Ou seja, estamos produzindo hoje aproximadamente o mesmo que produzíamos 80 anos atrás.
O feijão e o milho produzidos no estado estão longe de atender a demanda interna por esses produtos. Hoje se destinam apenas ao consumo de subsistência das famílias que o produzem. Mais que isso, mesmo essa produção de subsistência tem sido cada vez menor.
Essa não é, porém, a mesma trajetória dessas culturas no Nordeste. Se observarmos o gráfico abaixo vemos que na região a expansão dessas culturas segue em trajetória ascendente. Puxada principalmente pelo milho, com destaque para as produções comerciais do Oeste Baiano, o sul do Maranhão e os Tabuleiros Costeiros de Sergipe.
Nesses espaços, contudo, a produção do milho segue uma lógica absolutamente distinta daquela que predomina no sertão potiguar. É uma agricultura moderna, tecnificada, de alta produtividade e voltada para atender á demanda do mercado. Aqui é uma cultura tradicional, de baixa produtividade, para o autoconsumo e em declínio.
Se nada for feito o cultivo de milho e feijão do RN seguirá o mesmo destino da produção de algodão no estado: definhará até a sua quase completa extinção.
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