Daniel Turíbio

Daniel Turíbio é jornalista da agência Smartpublishing Mídias em Rede. Já trabalhou com mídia impressa, rádio e assessoria de comunicação. Reside em Natal/RN.

Dispara o abate de gado por causa da seca no RN

1 de outubro de 2012

Deu no caderno de Economia do Jornal de Hoje:

Que o abate de animais cresceu muito este ano no Rio Grande do Norte, por causa da seca e a escassez de comida para o rebanho, disso ninguém duvida. A grande questão, agora, é saber qual o tamanho do estrago, especialmente depois que o milho começou a faltar nos armazéns da Conab e os produtores denunciaram o esvaziamento do Comitê Contra a Seca instituído pelo governo estadual.

Segundo os últimos números divulgados esta semana pelo IBGE, a grande vítima é o rebanho de bois, cujos abates cresceram mais de 17% em relação ao ano passado. Só no segundo trimestre deste ano foram abatidas quase 29 mil cabeças, um aumento de 9% sobre o mesmo período do ano passado.

Foto: agrojornal

Por causa da produção leiteira, que também caiu muito este ano, as vacas foram mais poupadas do descarte, mesmo assim o abate apresentou uma variação positiva de 11,6%. Trata-se de uma tendência nacional, pois os abates de bois e vacas aumentaram em 7% em todo o território nacional no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2011.

Segundo o chefe do escritório do IBGE no RN, Aldemir Freire, os descartes de bovinos no RN deverão ser bem superiores aos verificados em 2011, quando o volume chegou a 106.672 abates. Os números corroboram o alerta das lideranças rurais, que falam de um encolhimento progressivo do rebanho potiguar.

“Há propriedade que registra dezenas de cabeças mortas por inanição todos os dias”, disse essa semana ao JH o presidente da Associação Norte-rio-grandense dos Criadores, Júnior Teixeira. Ele prepara um documentário sobre as agruras enfrentadas pelo interior, onde agricultores estão recebendo a visita de uma equipe que registra  tudo em imagens.

Para o empresário Gustavo Rocha, diretor da Lanila Agropecuária, os números oficiais foram beneficiados este ano com a recente atualização cadastral do Idiarn – o Instituto de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Norte. Mas admitiu que os dados estão muito longe da realidade dos abates em curso neste momento, por conta da seca e da falta de alimento para o gado.

“Eu diria, sem medo de errar, que é o número real é o dobro ou um pouco mais”, diz Gustavo Rocha. “Comparar apenas os descartes de cabeças a cada semestre não reflete com a mesma exatidão de uma comparação ano a ano”, afirmou Rocha. “Nessa conta do IBGE, não entrou o imenso abate clandestino da carne que vai parar nas feiras livres do interior e mesmo do gado enviado para outros estados, burlando a barreira erguida recentemente por Pernambuco e Ceará”, acrescentou.

Números podem passar dos registrados em 2010

Para o chefe do escritório do IBGE no RN, Aldemir Freire, os números de abates de cabeças deste ano indicam que eles podem superar os de 2010, um ano de seca. “Não há mais qualquer dúvida que teremos um aumento no descarte de cabeças em relação a 2011, quando o volume chegou a 106.672 abates”, lembrou Freire.

Mas para produtores como Gustavo Rocha, quando se fala em 100 mil cabeças abatidas, o melhor é projetar 200 mil cabeças ou mais. “Não é uma crítica aos dados oficiais, eles não poderiam mesmo considerar os abates clandestinamente de cabeças para as quais não há GTAs- Guias de Trânsito Animal”.

Ontem, em entrevista a este jornal, o presidente do Sindicato dos Produtores de Leite do Rio Grande do Norte (Sinproleite), Marcelo Passos, admitiu pela primeira vez que a atividade a que ele pertence está mudando seu modelo de produção e há poucas chances desse quadro ser revertido. E previu que muitos produtores poderão se retirar da atividade, com repercussões sociais sérias para o campo.

Ao comentar os dados do IBGE sobre que de 7% na captação de leite pelos laticínios entre o primeiro e o segundo trimestre deste, o vice-presente do Sindicato da Indústria do Leite (Sindleite), Francisco Belarmino, previu neste sábado um inevitável enxugamento na produção da bacia leiteira potiguar a partir de agora. “Os pequenos produtores familiares já se retiraram da atividade”, assegurou. “Estamos com muito medo do que está acontecendo e vai chegar a hora que a indústria processadora terá que parar por falta de matéria-prima”, alertou.

Segundo Belarmino, o Governo do Estado está pagando em dia os R$ 0,93 por litro do programa do leite, mas as queijeiras já estão pagando até R$ 1,15 no interior. “E a impressão que temos que, mesmo assim, está difícil encontrar leite para comprar, pois as coisas estão piorando numa velocidade muito grande”, afirmou.

Semana passada, a confirmação que a última licitação da Conab para enviar uma carga de milho para o Rio Grande do Norte fracassou por falta de transportadores interessados desesperou muitos produtores potiguares, a ponto do presidente da Faern, José Vieira, dirigir duras críticas ao Governo que, segundo ele, estaria apático e imobilizado para entender as dimensões da crise.

Segundo Vieira, o Comitê Contra a Seca, instituído este ano pela governadora Rosalba Ciarlini, estaria totalmente esvaziado. Ele cobrou reciprocidade do estado, depois da ajuda dada pela Faern para o processo de reorganização do Idiarn, para qual o Federação colaborou com o pessoal para a reestruturação do cadastro de produtores.

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