O governo federal anunciou ao longo da semana um novo pacote para estimular a indústria e manter o crescimento da economia. As medidas, que vão desde a desoneração da folha de pagamento – estendida para mais 11 setores da indústria – até o barateamento do crédito, através da redução das taxas de juros, entram em vigor em 90 dias. Um dos impactos esperados é no mercado de trabalho. No Rio Grande do Norte, o efeito do pacote ainda divide, porém, opiniões. A indústria não garante se contratará mais. Os hotéis, incluídos pela primeira vez em um pacote como esse, preveem, por outro lado, aceleração nas admissões.
Para o economista Aldemir Freire, chefe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no RN (IBGE/RN), a indústria potiguar dificilmente conseguirá reverter o quadro de desaceleração. O setor, que acumula perdas significativas, fechou 2011 com o pior saldo de empregos da década. Para Aldemir, as medidas recém-anunciadas não terão força suficiente para alavancar a geração de empregos na indústria local. A força da indústria têxtil e de confecções – que enfrenta dificuldades em todo o Brasil – na geração de empregos, segundo ele, inibe qualquer possibilidade de crescimento. O setor foi um dos contemplados com a desoneração total da folha de pagamento, mas reconhece que recuperar as perdas registadas até o momento será difícil. Só em 2011, a indústria têxtil e de confecções no estado demitiu quase 11 mil pessoas, fechando com um saldo negativo de – 4.610 empregos.
Com uma oferta reduzida de empregos, a indústria de transformação potiguar não será uma boa opção para quem busca uma vaga no mercado de trabalho este ano – a não ser que o candidato já trabalhe na área.
COMÉRCIO
Mesmo com todo este estímulo, o setor de comércio e serviços continuará respondendo por boa parte das oportunidades geradas no estado. No ano passado, o setor foi responsável por quase 60% de todas as contratações. “O setor de comércio e serviços é o que mais oferece oportunidades”, afirma William Pereira, professor de pós-graduação no Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Amaro Sales, presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), aposta no crescimento do número de empregos, mas afirma que é preciso ir além. João Lima, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem em Geral, concorda. Segundo ele, é preciso avançar em quatro frentes: câmbio, logística, energia e mão-de-obra – fatores que reduzem a competitividade dos produtos brasileiros, impactam a geração de empregos no país, e reduzem a participação da indústria no PIB. No último ano, a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu de 16,2% para 14,6%. O percentual só foi menor em 1956, no governo de Juscelino Kubitschek, quando o setor respondeu por 13,8% do PIB. Na década de 80, a indústria representava quase 30% do PIB nacional.
Para Aldemir Freire, do IBGE, se as medidas adotadas conseguirem conter as demissões no Rio Grande do Norte já será uma grande vitória. O único subsetor que tem capacidade de alavancar a geração de emprego no estado em menos de um ano, segundo ele, é a indústria têxtil e de confecções, “que não fará isso”. João Lima admite que será difícil reabrir todos os postos de trabalho fechados no último ano. “Se o governo conseguir controlar o câmbio e reduzir a entrada de produtos subfaturados, talvez consigamos”. Apesar de toda incerteza, João Lima prefere ser otimista. “Não temos outra opção”.
Cenário é de aquecimento na hotelaria
O setor hoteleiro, incluído pela primeira vez em um pacote como o que foi anunciado pelo Ministério da Fazenda, esta semana, será um dos setores mais beneficiados no Rio Grande do Norte, na avaliação de George Gosson, empresário e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no estado (ABIH/RN). Embora não possua números, ele acredita que a desoneração total da folha de pagamento alavancará a geração de emprego no setor.
Além das medidas, as obras com vistas à Copa de 2014 também podem reverter o quadro de desaceleração. A ABIH/RN afirma que 11 hotéis serão construídos ou ampliados na Grande Natal até 2014, segundo levantamento divulgado em 2011. Ainda de acordo com a entidade, o setor deverá receber R$350 milhões em investimento nos próximos três anos. O cálculo não leva em consideração os pequenos meios de hospedagem.
O fôlego dado pelo governo chega em um período difícil para o Turismo. Taxas de ocupação abaixo da média tem preocupado os hoteleiros, que já começaram a demitir. Para Semana Santa, por exemplo, eles projetavam uma taxa abaixo de 80%. No ano passado, a taxa ficou em torno de 100%. O câmbio, que tornou os destinos internacionais mais competitivos, é apontado como o principal vilão, mas o setor também reclama da falta de divulgação e de investimento em infraestrutura. Segundo Gosson, demissões vem sendo registradas mês a mês. A expectativa é que as medidas anunciadas revertam este quadro. O efeito, entretanto, só poderá ser sentido após 90 dias, quando as medidas entrarem em vigor. Até lá, o setor continuará acumulando perdas.
Números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o saldo de empregos gerados no setor de hospedagem e alimentação no primeiro bimestre de 2012 foi 62,7% menor que o registrado no mesmo período do ano passado. O número de empregos gerados em serviços de alojamento e alimentação no estado caiu 76,96% entre 2010 e 2011, passando de 3.864 para 890 vagas. Qualquer perda neste setor é significativa, alerta a ABIH. De acordo com estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em 2011, a participação do turismo na economia formal do estado chega a 4,4% – a maior do Brasil.
Impacto das medidas poderia ser maior
São Paulo (ABr) – No caso da indústria, os setores da beneficiados com desoneração da folha de pagamentos têm grande peso na formação de empregos. As medidas de desoneração fiscal anunciadas pelo governo são um “passo importante” para melhorar o ambiente de negócios e aumentar a participação da indústria na produção e no emprego, de acordo com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.
Ele ressalta, porém, que o problema da indústria não é de ordem conjuntural apenas. Trata-se, segundo ele, de uma questão estrutural, que reflete problemas de competitividade sistêmica. No seu entender, a desoneração da folha de salários, créditos e defesa comercial ajudam, mas é necessária uma estratégia clara de política industrial, com objetivos bem definidos, para que a indústria tenha “isonomia competitiva”. O presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho, também acredita que as medidas terão impacto positivo no setor têxtil e de confecções, mas defende “mudanças contínuas e profundas nas estruturas de produção”.
O professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Samy Dana, também bate na mesma tecla. Ele diz que não adianta apenas reduzir tributos pontuais e específicos, quando é necessário diminuir toda a carga tributária brasileira e, sobretudo, reduzir o spread bancário (diferença entre os juros que os bancos pagam aos clientes e os juros cobrados nos empréstimos). Sem isso, segundo ele, não haverá grande aumento do número de empregos no país com essas medidas. “Precisamos fazer mais para que a indústria brasileira ganhe em competitividade e para isso o governo precisa investir mais em infraestrutura e trabalhar por uma ampla reforma tributária”, acrescentou.
Representantes dos trabalhadores e dos empresários elogiam nacionalmente as medidas apresentadas pelo governo, mas reforçam que os estímulos atendem apenas parcialmente às reivindicações dos setores produtivos. Eles estariam ainda aquém do que trabalhadores e empresários esperavam.
“Os principais fatores de perda de competitividade da indústria são câmbio, juros e tributo. E esse tripé pouco mudou. O Brasil é o único país do mundo que tributa quem investe e compra máquina. Enquanto não mudar isso nós vamos ficar igual a cachorro correndo atrás do rabo”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto.
Bate papo
Carlos Henrique Mencaci, presidente do Nube
“O setor de Serviços contrata. A questão é o salário”
As medidas recém-anunciadas pelo governo federal vão acelerar a geração de emprego na indústria?
As medidas podem alavancar a geração de empregos e reduzir a velocidade da nossa desindustrialização. Os problemas de competitividade do Brasil, entretanto, são mais graves que alguns porcentos das despesas com encargos.
A indústria é uma boa opção para quem quer conseguir uma vaga no mercado de trabalho ou o candidato deve procurar principalmente agropecuária, comércio e serviços?
O setor de Serviços é o que mais contrata. E continuará contratando cada vez mais. A questão é o valor do salário. Os poucos que exigem especialização pagam bons salários. Mas boa tem pouca necessidade de conhecimento. Isto é bom para uma parte de nossa população carente de uma boa escolaridade, mas limitante para o progresso salarial e do PIB do país.
Quais os segmentos mais promissores dentro da indústria? E quais os menos promissores?
Os segmentos mais promissores são os que não conseguem importar tudo, como por exemplo a civil, infraestrutura, minérios, petróleo, agropecuária e bioenergia. A indústria mecânica está sofrendo muito e caindo rapidamente. Software é a que pode crescer mais rápido. Setores como hardware, nanotecnologia, tecnologia medica, farmacêutica e eletrônica fina não apresenta muitas chances pois além de não termos passado, precisamos de muito investimento para virmos a tona.
O que fazer para aumentar o número de oportunidades?
O Brasil tem que investir a longo prazo. Isso significa criar polos educacionais e pesquisa como foi feito com o ITA em 1954 gerando uma Embraer em 1969. Temos que elevar o nível do ensino fundamental e médio. Temos que reduzir os impostos de forma real e sem provocar déficits internos com juros para todos.
Quais as formações mais demandadas atualmente?
Administração, Comunicação Social, área de Informática, Engenharia e Direito.
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